domingo, 27 de novembro de 2011

UM POINTER NO SÉCULO XVII NUM ESTUDO DE PIETER BOEL (EXCURSO) – PARTE II

EXCURSO - PARTE II

Presentation of the oldest or first iconographic representation of the English Pointer (a posteriori, evidently...) or Pointer in a Pieter Boel Study of a Louvre Museum collection.

La première representation iconographic du braque anglais (a posteriori, évidennent...)  ou pointer - c'est un Étude de Pieter Boel "Dix-sept études de différents chiens", du 3º quartel do séc.XVII, procédent du Cabinet du roi et gardée dans une collection du Musée du Louvre?

Louvre Museum Graphic Art Database

Vamos imaginar como é que reagiria Domingos Barroso ao Étude de Pieter Boel, "Dix-sept études de différents chiens, do 3º quartel do séc. XVII".

O Padre Domingos Barroso (D.B.), autor de "O Perdigueiro Português", sendo caçador e tendo lido quantos livros e artigos conseguiu apanhar sobre cães e caça – é portanto D.B. um ensaísta-caçador, se atendermos ao conceito de historiador caçador proposto por Bugnion (cf. Jacques Bugnion, Les Chasses médiévales, 2006, pág. 152) - inquiriu-se sobre como é que o nosso cão de parar autóctone e antecessor do Perdigueiro Português, talvez o podengo de mostra de que fala o livro de D. João I

[(edição e prefácio por Esteves Pereira) Livro da montaria, feito por D. João I, rei de Portugal, conforme o manuscrito n. 4352 da Biblioteca Nacional de Lisboa; pub. por ordem da Academia das Sciências de Lisboa - ver, ainda, a edição crítica de José Maria Abalo Buceta, Livro da Montaria D.João I de Portugal]

poderia ter ido parar a Inglaterra durante ou na retirada dos exércitos no final da Guerra da Restauração (1640 a 1669), terminando com o Tratado de Paz de Lisboa - guerra essa, curiosamente, em que Ingleses e Franceses foram aliados dos Portugueses, e que convém não olvidar para, deste modo, se vislumbre de forma fulcral toda a base da formação do Pointer.

Dirk Stoop, flamengo, foi pintor oficial de Portugal (de 1651 a 1659) na Guerra da Restauração da Independência e pintou muitos durante a vida cães e cenas de caça onde eles participavam. Por cá, no nosso reino, nem por isso: não pintou nenhum cão em cenas de caça, de pelo curto ou de pelo comprido, de focinho arrebitado ou não - há um quadro do Terreiro do Paço, no Museu Nacional de Arte Antiga, (o cão que galopa no canto inferior esquerdo é um épagneul directamente bo quasro ou em grande ampliação duma reprodução). Portanto, até hoje não foi encontrado em lado nenhum, um cão semelhante a este, naso rivolto (cão semelhante a um pointer que está deitado) nem semelhante aos outros tipos de cães que aparecem no Estudo de Pieter Boel que tivesse sido pintado por Dirk Stoop.

Domingos Barroso estudou os movimentos dos exércitos e o papel que os oficiais aficionadas da caça com cão de parar poderiam ter tido na emigração do dito antepassado do cão de parar autóctone, reproduções iconográficas e materiais publicados disponíveis. Eu vou usar um pastiche de trocas de presentes entre os reis e as cortes.

Esta variante de braco (no Estudo de Pieter Boel) de cabeça e cauda idênticas à do estalão do pointer, (imaginemos) teria sido oferecida por Louis XIV ao Infante ou ao depois Regente D. Pedro, conhecendo-se os seus gostos pelos desportos

[in, Pedro II de PortugalWikipédia, a enciclopédia livre:

"Diz Veríssimo Serrão em 'História de Portugal', volume IV, página 233: 'Um historiador coevo exaltou as suas qualidades físicas, tanto na destreza das armas como no toureio a cavalo, por ter uma agilidade e fortaleza que o predispunham para exercícios de violência. Foi no seu tempo que o palácio de Salvaterra de Magos voltou a ser o local preferido da corte, ali se instalando D. Pedro II nos meses de Janeiro e Fevereiro, para se dedicar aos desportos da montaria. ... Senhor de grande memória, o monarca nunca recusava audiência a quem lha pedisse, tanto de dia como de noite, deleitando-se em ouvir os outros e em discutir os assuntos nos mais ínfimos pormenores. Essa qualidade era ... um dos seus maiores defeitos, porque queria sempre ouvir a opinião dos conselheiros, o que o levava a dilatar a resolução dos problemas...'; deve acrescentar-se, ainda, a edição de Rainer Daehnhardt, do livro magistral de Cesar Fiosconi, e Jordam Gusterio, Espingarda Perfeyita & regars da sua operaçam com circunftancias neceffarias para o melhor acerto; dedicada á Magestade do Serenissimo Rey de Portugal Nosso Senhor D, Joaõ V., se pode encontrar na pág. 152, "Bem fe verifica o referido na Efpingarda com que tirava o Sereniffimo SenhorRey Dom Pedro II, que fanta gloria haja, que tendo na fua cafa das Armas muytas, & boas, feytas pelos melhores Meftres da Europa, naõ ufava mais que da accrefcentada feyta por Marcos Antunes" [On ye most excellente work,"Espingarda Perfeyta" or "Ye Perfect Gun"], idem, no que se pode comprovar em Sousa Viterbo, A armaria em Portugal: Memoria apresentada à Academia real das Ciências de Lisboa , pág. 39, 1907 e, também, em Eduardo Borges Nunes, Inventário post mortem del-rei D. Pedro II,1969, pág. 99].

Digamos, repetindo: Louis XIV teria oferecido o cão ao nosso rei D. Pedro II (ainda regente, que será talvez o regente da regent's breed de que fala Lascelles, A series of letters on angling, shooting, & coursing, pág. 169 - que preferimos a D. João VI que foi muitos anos Regente, por causa da doença de D. Maria tendo em conta as suas qualidades atléticas) para se desculpar da bronca diplomática do casamento da sobrinha que à bruta bateu o pé e sem reverência a sua Majestade Rei Sol - homem cuidadoso no dressage e cioso no trato dos seus "chiens d'arrêt et grand tireur au vol".

Ou, como alternativa, então, este cão de nariz arrebitado representado no Étude de Boel, poderia ter sido oferecido por Louis XIV para apaziguar e contentar a sobrinha Maria Francisca Isabel de Sabóia, que ficou muito incomodada com o casamento com Afonso VI (em 1666), e, logo a seguir, se enlaçou perdidamente (o que por si só a deve ter apaziguado e contentado, porque foi mal que veio por bem, como chegam o dizer que foi o relâmpago para S. Paulo naquele fado da estrada ao encontro do destino divino) logo no ano seguinte, com o futuro D. Pedro II, que depôs à força o rei seu irmão do trono e o manteve preso tendo permanecido Regente (particularidade digna de registo) até à morte do tresloucado D. Afonso VI.

O Padre Domingos Barroso (O Perdigueiro Português)e Arkwight (The Pointer and His Predecessors...., 1906, pág, 28), também referem a Guerra da Sucessão de Espanha como outro momento em que o perdigueiro autóctone, como é chamado na lei, muitas vezes citada e editada (há três edições na BN ...), bem como da sua proibição de uso e posse de D. Sebastião, durante a Guerra de Sucessão de Espanha (entre 1702 e 1713/4) - terminada com a Paz de Utrecht em 1713/4, em que D. Pedro II combateu contra Louis XIV e estando ao lado dos Ingleses - como o momento em que os oficiais dos exércitos ao regressarem teriam levado o nosso cão de mostra para Inglaterra. Hoje conhecemos outro facto iconográfico perturbante, um quadro de Desportes, feito em Inglaterra em 1713 a cães que provávelmente teriam vindo de França, e que pertence à Colecção Chatsworth, «Two pointers belonging to the 3rd Earl of Burlington with dead game in a landscape», 1713 [in, Michael Meredith Hardy, The Origins and History of the German Shorthaired Pointer, 1962] - que são, curiosamente, dois pointers perfeitos. De referir que Richard Boyle, 3º lord Burlington, que pertenceu depois à Freemasonry [ver: Association of Gardens Trusts e The constitutions of the free-masons, 1723, pág 48, sofria de grave franco-italofilia e logo em 1714 aos 14 anos foi fazer a sua Grand Tour, idade em que era ideal partir.

Desportes, «Two pointers belonging to the 3rd Earl of Burlington with dead game in a landscape», 1713.


Quadrícula retirada do quadro de Desportes, «Deux chiens gardant du gibier dans une paysage», 1713, assim nomeado in: George Lastic et Pierre Jacky, Desportes, 2010, pág. 119.

A ampliação revela que o cão com a cabeça de perfil, tal como outro no quadro, não tem focinho em prato ou dished face - não têm, ambos os cães, eixos longitudinais cranio-faciais superiores convergentes.

Mas o facto é que se estes dois pointers poderem ter ido de Portugal, fazem surgir problemas seguindo essa via da imaginação, e não é por Dirk Stoop não ter desenhado ou pintado nenhum, vejamos:

Ora bem, depois da paz de Utrecht (1813), M. Freyre assina a gravura em que um caçador atira por cima de um cão parado (over de dog) a aves que voam, na p. 357 (ou interposta entre as pp. 157 e 159 da edição original) da Espingarda Perfeyta, 1718, mas o cão não parece da variação (Darwin) simo potiusquam adunco rostro (Biondo, citado por Arkwright, The Pointer and His Predecessors...., 1906, pág. 50 e 51) contudo algumas pessoas poderão conseguir ver, pelo contrário, um focinho arrebitado, 'dished' face, um ligeiro angulo convergente formado pelos eixos longitudinais superiores do crânio e da face - mas a implantação das orelhas poderá parecer um pouco baixa... a cauda embora pareça cortada, parece estar bem, o pescoço pode ser entendido um pouco comprido, afinal talvez não... -. Então, este cão poderia ser mesmo um descendente do cão que imaginámos enviado para Portugal por Louis XIV, um cão vindo doutro lado, por exemplo da Espanha ou, então, podendo ser mesmo autóctone, o que seria, só aparentemente, mais verosímel por presunção.


Como também não é de teimar na hipótese de que D. Afonso VI (que os diplomatas Portugueses, que lhe negociaram o casamento com a Sabóia antes de 1666, tenham levado o cão ao Rei Sol) e Louis XIV que, com Pieter Boel disponível, julgo que desde 1668, teria proporcionado ao pintor a oportunidade de este realizar o seu Estudo "Dix-sept études de différents chiens".

O problema começa a surgir quando se cai na "xico espertice" de enunciar que o Regente D. Pedro, sendo o verdadeiro regente da regent's breed (só agora pubicamente e verdadeiramente divulgada porque até agora tem sido assunto desconhecido dos autores - e aqui, haverá gato?), para influenciar ou agradecer concessão matrimonial da sobrinha a Louis XIV ou por outro favor (a Guerra da Restauração só iria terminar em 1668 com a Paz de Lisboa) lhe tenha enviado esses famosos Perdigueiros da regent's breed de que nos fala Lascelles (que todos os que o leram e não repararam, de Arkwright ao dr. Louis Melre, que citam várias vezes A series of letters on angling, shooting, & coursing (mas nunca na pág. 169, pela razão que desde Leopoldo Carmona é apontada: falta de conhecimento de Portugal e da Cultura Portuguesa). Mas, estranhamente, os cães da regent's breed fazem com força lembrar a Robert Lascelles, pág 166, a conhecida gravura de Wollett, "The Spanish Pointer", 1768 - ver esta gravura em Arkwright, The Pointer and His Predecessors...., 1906, PLATE VIII,entre as págs 48 e 49



Digo estranhamente, porque o cão da a gravura de Wolllett, feita segundo o quadro de Georges Stubbs, "The Spanish Pointer", 1760, é um corpolento cão, e belo, porque em perfeita forma física, que não tem a ver (é muito diferente) com o elegante pointer representado deitado, muito elegante, também em perfeita forma física, do Étude de Boel, "Dix-sept études de différents chiens", do do 3º quartel do séc.XVII, repito: do séc XVII, segundo o Museu do Louvre! Acontece também que George Stubbs pintou, sete ou oito anos antes, cães de parar mais elegantes (muito semelhantes aos pintados por Tillemans, abaixo) que o Spanish Pointer, 1767. Aquele que segue é conhecido por "Shooting at Goodwood"


Para o 3º Duke of Richmond, quadro de uma série de três, Georges de Stubbs, "Shooting At Goodwood", 1759-1760. W. Enos Phillips, publicou uma fotografia deste quadro entre as págs. XVIII e XIX de The True Pointer and His Ancient Heritage, 1970.

Anteriormente, 35 anos antes de Stubbs ter pintado o "The Spanish Pointer", Tillemans tinha pintado o quadro abaixo, a primeira representação do pointer em Inglaterra, segundo Arkwright.


Para Evelyn Pierrepont (o amigo de Buffon) o quadro de Tillemans, "The Duke of Kingston shooting in the grounds of Thoresby Hall", 1725.

Curiosamente, Evelyn Pierrepont, 2º Duke o Kinsgston, saíu para a sua Grand Tour em 1726 com 14 anos para ir ter com Buffon que tinha apenas menos de meia dúzia de anos a mais que o Duque e, portanto, não estava ainda à frente do "Cabinet du roy", claro.

Vamos lá com juízo: isto não passam de hipóteses fantasiosas com hiatos ou espaços vazios, no plano da prova, inultrapassáveis - são abstracções selectivas do pensamento e da imaginação, arbitrarias e distorcidas, induções amplificantes, catatimicas e passionais.

Charles Darwin ficaria espantado com o Étude de Pieter Boel, "Dix-sept études de différents chiens", 3º quartel do séc.XVII, sobretudo pela sua origem Francesa (Louis XIV) - a data de Darwin para a chegada do Pointer a Inglaterra teria sido posterior a 1688 e a sua origem a Espanha (leia-se: Península Ibérica) e considerava ter sido necessária uma grande transformação da morfologia do cão ao longo dos anos [Darwin, C. R. 1868, The variation of animals and plants under domestication, Vol, 1, pág. 42 - Text Images Text & images PDF]

"Our pointers are certainly descended from a Spanish breed, as even their present names, Don, Ponto, Carlos, etc., show; it is said that they were not known in England before the Revolution in 1688 (1/86. See Col. Hamilton Smith on the antiquity of the Pointer, in 'Nat. Lib.' volume 10 page 196.); but the breed since its introduction has been much modified, for Mr. Borrow, who is a sportsman and knows Spain intimately well, informs me that he has not seen in that country any breed "corresponding in figure with the English pointer; but there are genuine pointers near Xeres which have been imported by English gentlemen." [p. 42]

Se Domingos Barroso visse o Étude de Pieter Boel, "Dix-sept études de différents chiens, do 3º quartel do séc. XVII", quadro que me parece ilustrar a teoria dos cruzamentos de cães do século XVII expressa nas obras clássicas da Espanha do séc XVII, ou outra formulação cifrada da teoria do cruzamento entre cães do mesmo século, teria ficado muito satisfeito por ter começado o seu livro com referência a Buffon sobre os cruzamentos inter espécie. O exemplo que dá é o do cruzamento do cão com o lobo [este assunto é tão importante para Domingos Barroso que logo na pág. 11 d'O Perdigueiro Português faz uma "revisão" científica actualizada da matéria com um artigo Georges Hervé, "Entre chien et loup (note d'hybridologie)", Revue anthropologique, n, 7-9, Juillet-Septembre, 1931, p. 201 a 219] e ter ido logo a seguir para o transformista Alphonse Toussenel, L'esprit des bêtes véneririe française et zoologie passionelle, 1847 (clicar Gallica e ver a 2ª edição de 1855) e de usar o livro de G. de Marolles, Chiens de Faucon. Chiens d' Oysel Chiens d'árrêt (1924), para enriquecer o seu tesouro de citações, mas nunca para aderir à sua teoria da incompatibilidade do "chien courant avec le chien d'arrêt", com a qual G. de Marolles atacava ferozmente a "teoria do enxerto do chien d'arrêt dans le chien courant" de Piétrement, - L'origine et l'évolution intellectuelle du chien d'arrêt, 1888, a que Alphonse Toussenel aderiu.

Falta, então, falar do galgo na interpretação proposta dos cruzamentos para obter o pointer cifrados na pintura que é apresentada: do galgo que no canto superior direito do Étude de Pieter Boel de costas para quem olha o "Dix-sept études de différents chiens" para os dois cães [cadelas pequeninos(as) do canto inferior esquerdo dos Études o que pode assinalar um ou dois cruzamentos sucessivos]. Não posso deixar de acrescentar que no texto de Ruy d'Andrade, "Cães de Caça" [in Revista Caça & Sport, 18 de Abril de 1924, pp.6-13, editado pelo Cão de Parar, nas pág. 12 e 13] aparece o melhor texto que li sobre o galgo no estilo inconfundível do autor - este texto trata do galgo Português (conhecido por galgo espanhol ou galgo dos ciganos) e sobre o galgo inglês - o galgo Português caça à vista e a ventos...

CANIL DE VERSAILLES

Um dos lugares dos saberes, do saber sobre os cães em data próxima à que Pieter Boel realizou o seu Étude "Dix-sept études de différents chiens", du 3º quartel do séc.XVI, para Louis XIV.

Aqui trabalhou Briffardière para Louis XIV, Antoine Gaffet (de la Briffardière) et Chappeville, Nouveau traitée de Vénerie,, [1ª ed. 1742] 1750 [ler a entrada GAFFET DE LA BRIFFARDIÈRE, em J. Thiébaud, Bibliographie des ouvrages Françaises sur la chasse, 1934] - da nota Gaffet de la Briffardière, retiramos uma parte, mas deve ser totalmente lida:

"...La paginationest mal chiffrée, bien que les signignhatures se suivent. Il y a des pages 176; la page 208 n'existe pas; la page 275 est chiffrée 245; aprés la page 288 la pagination saute à 305. La page 325 est chiffrée de 225; la page 337 est chiffrée 387. Dans certains ex., le mot «introduction» ne figure pas au bas de la page 16. ..." [por curiosidade diga-se que a edição de 1750 do livro de Briffardière esteve à venda na Bertrand de Lisboa na véspera do terramoto pombalino, cf. Manuela D. Domingos, Bertrand: uma livraria antes do Terramoto, 2002]

Por outro lado, foi editado no Cão de Parar [7 de Julho de 2010], o texto de G. de Marolles, "Chiens de Faucon Chiens d'Oysel Chiens d'Arrêt" (1922), onde à pág. 52, se pode ler: "on voi un chapitre sur La Maniére de dresser le Chien d'arrêt. Le privilège du Roi relatif à cet ouvrage est du 10 avril 1725. L'expréssion chien d'arrêt existait donc un peut avant 1725, et fut très peu employée avant 1769 et même 1810" - chamavam-lhe chien de plaine.

De mesmo modo, O Cão de Parar editou [25 de Junho de 2010] o extracto “Le Chien Couchant, Ses deux origines” (págs. 117 a 123), de Jacques Bugnion, Les chasses médiévales, p. 122, segue G. de Marolles quanto à expressão "d'arrêt": "Le [l'expréssion «chien d'arrêt] chien d'arrêt apparait pour la première fois dans le Nouveau traité de Vénerie de Gaffet de la Briffardière (1742). L'Expression sera reprise par Diderot dans son Encyclopédie (1751)." - Encyclopédie de Diderot et d'Alembert, Page 20:2:21, Page 20:2:22, Page 20:2:23 - em que o cap.de Briffardière, "La Maniére de dresser le Chien d'arrêt" é, pura e simplesmente, transcrito.

No séc. XVIII, Buffon esteve à frente do Cabinet du roy - Buffon et l'histoire naturelle: l'édition en ligne, (pesquisar «chien»); Buffon, Histoire naturelle, générale et particulière: Volume 2;Volume 23, (Chien, pág., 163. braque, 348).

LE CHENIL


"Derrière la Grande Ecurie, l'hôtel du duc de Chaulnes est aménagé depuis 1682 pour accueillir le chenil. Le palais a subi quelques transformations pour accueillir l'institution qu'est la Vénerie. Les dernières finitions devraient être effectuées l'année prochaine (1688) avec la décoration de la chapelle par le sculpteur de La Lande.

Le duc de La Rochefoucauld, en sa qualité de Grand Veneur, est logé dans les bâtiments. Il est assisté de dix lieutenants et sous-lieutenants, 38 gentilshommes de la Vénerie, des valets de chiens, pages, piqueurs, etc... Les cours hébergent entre 200 et 300 chiens, regroupés dans différentes cours selon leur race et leur âge"
.


"Il est facile de comprendre la grandeur de ce premier logement, quand on sait combien le Roi a d'Officiers pour la chasse du cerf ; la quantité de Gentilshommes, de Pages, de Gardes, d'Archers, de Valets, d'Artisans, de chevaux, de chiens & d'équipages : Car toute cette suite si nombreuse se trouve rassemblée dans le Chenil aurpès du logement de M. le Grand Veneur, qui est le principal corps de logis qu'on y doit remarquer." [Félibien]

Vale a pena clicar nos sites abaixo:

- Bienvenue sur le Site Versailles 1687 - Le Chenil

- Encyclopédie, ou Dictionnaire raisonné des sciences, des arts et ... - Denis Diderot, Jean le Rond d'Alembert, "L'on avoit conservé cet usage jusqu'au règne de Louis XIV; j'ai vu de grandes cheminées, environnées de grillages de fer, dans les chenils de Versailles ..."

- Histoire de la chasse en France depuis les temps les plus reculés ...: Vol. 1 [Joseph-Anne-Emile-Edouard Dunoyer de Noirmont (baron) – 1867] - "Le chenil de Versailles, situé derrière la grande écurie, coûta pour le moins 200000 écus (3). Le Roi agrandit considérablement le parc de chasse de Versailles et entoura de murs la forêt de Crouy, à laquelle il voulut qu'on donnât ..."


Alain Cambon, "Plan du chenil de Versailles. Plan masse"

[em continuação]

terça-feira, 22 de novembro de 2011

UM POINTER NO SÉCULO XVII NUM ESTUDO DE PIETER BOEL – PARTE I


Pieter Boel [1622–1674 - Boel nasceu em Antuerpis e, provavelmente, foi para Itália em 1660 onde terá permanecido oito anos; terá sido Mestre de David Coninck. Regressou para França e, depois de 1668, foi Pintor Oficial [Peintre Ordinaire] de Louis XIV. Em França fez desenhos para a fábrica de tapeçarias de Gobelins], "Dix-sept études de différents chiens", 3º quartel do séc.XVII - Será mesmo que a primeira representação iconográfica do Pointer Inglês foi realizado na corte de Louis XIV?

- Presentation of the oldest or first iconographic representation of the English Pointer or Pointer in a Pieter Boel Study of a Louvre Museum collection

- La première representation iconographic du pointer anglais - c'est un Étude de Pieter Boel procédent du Cabinet du roi et gardée dans une collection du Musée du Louvre?

O Estudo de Pieter Boel, acima referido, fez parte do espólio do Cabinet du Roy [e o Estudo de Boel terá permanecido no segredo rigoroso do rei cuja paixão eram os épagneul? - é improvável, os segredos dos Reis são sempre devassados, por mais medidas de rigoroso controlo que sejam tomadas] conforme notícia da BnF - No registo Napoleon da Bnf vem nomeado como "Des chiens. Etude peinte à l'huile", e nos registos de notícias actuais tem o título de “Dix-sept études de différents chiens”, sendo datado do 3º quartel do séc.XVII. O Cão de Parar procurou mais referências – que o assunto era de respeito - mas até agora não conseguiu encontrar mais menções e estudos sobre este trabalho de Boel.

Continuemos: O cão na linha inferior do quadro, que está a meio em primeiro plano, tem convergência dos eixos longitudinais superiores do crânio e da face igualzinha à de um pointer [além da cabeça, a cauda também é típica do standard actual do pointer].

Interpretação ou LEITURA IMPRESSIONISTA - uma heurística crítica e aberta:

Será que é o pointer mais antigo da iconografia respectiva (1650-1575)? Como é que até agora ninguém tenha dado com este prato de resistência - a substância da forma de naso rivolto, 'dished' face (focinho em prato), focinho arrebitado? Em linguagem que passa por mais precisa e abstractamente rigorosa (além de pretender revelar iniciação avançada na matéria): um cão de eixos longitudinais superiores do crânio e da face formando um ângulo convergente (traço comum apenas dos estalões do Pointer Inglês e do Perdigueiro Português entre os estalões de todas as raças de cães deparar?).

Não terá chegado a Inglaterra no século XVII, mas chegou ou terá nascido e sempre permanecido nos canis de Louis XIV - será uma variação (Darwin) dos mesmos bracos que mais tarde Desportes e Oudry pintaram dos canis do rei de França e Navarra? ou foi visto por Pieter Boel na sua estadia recente em Itália, um cão simo potiusquam adunco rostro, isto é de focinho arrebitado [in, De Canibus et venatione de Biondo, 1544, título: «De Cane Odoro», pág. de verso da numerada VII - citado por Arkwright, The pointer..., 1906, pág. 51], e trazido para os canis do Rei Sol [cioso no tratamento, cuidando ele próprio do dressage e preferindo os seus épagneuls de cauda cortada com tufo em borla na extremidade, marca que nos revela Jacques Bugnion, Les chasses médiévales, 2005, pág. 120, 12] e que Arkwright pode ter confundido com pointers [PLATE V de Desportes, PLATE VI de Oudry, Arkwright The Pointer and His Predecessors...., 1906 - sobre a caça "au chien d' arrêt" dos Bourbon e, particularmente, de Louis XIV, ver: Dunoyer de Noirmont, Histoire de la chasse en France depuis les temps les plus reculés jusqu'á la révolution (Volume t.1), Histoire de la chasse en France... (Volume t.2), Histoire de la chasse en France... (Volume t.3), 1868 - sabendo-se, contudo, que Louis XIV não preferia os braques ou bracos, de que este cão se supõe ser uma variação (Darwin) como já foi dito acima, com tal forma de focinho?]

Na realidade, este cão do Estudo de Pieter Boel que estamos a referir (este Pointer Inglês, que o seja) até poderia ter chegado a Inglaterra muito antes (caso já existisse, claro, embora para alguns, invocando razões, entre as quais a data habitualmente atribuída por muitos autores do aparecimento do Pointer cedo ou tarde no seculo XVIII, possa ser considerado não verosímel - havendo poucos autores que fazem remontar essa data a meio do séc. XVII sem que digam bem porquê), porque eram habituais grandes presentes entre os reis e sabe-se que, apenas menos 50 anos antes do quadro ter sido pintado por Boel, o rei Louis XIII, rei de França e de Navarra, enviou de presente a Jaime I rei de Inglaterra, escreveu Chamberlain a Carleton (1624): 'A French baron, a good falconner, has brought him [the King] 16 casts of Hawks from the French King, wiht horses and settings dogs; he made a splendid entry with his train by torch-light, and will stay till he has instructed some of our people in his kind of falconry, though its costs his Magesty 25£ or 30£ a day' (State papers of James I, Domestic Series, vol. clviii, p. 149, Arkwright, The pointer..., pág. 14) citado também por Dunoyer de Noirmont, Histoire de la chasse en France...(Volume t.2, p. 361, em nota no fim de página).

Agora (espanto!?), o pointer do Estudo Piente Boel pode não ser o mais antigo... os egiptólogos fornecem a representação do pointer mais para nossa reflexão, e o entusiasmo deverá ser moderado, pois há problemas de método a começar com o decalque das representações que não foi repetido nos modelos com o rigor das tecnologias de investigação actualmente disponíveis (sê-lo-à alguma vez?).

O egiptólogo Sir John Gardner Wilkinson publicou em várias obras [entre elas, Manners and Customs of the Ancient Egyptians, including their Private Life, Government, Laws, Arts, Manufactures, Agri-culture, Religion, and Early History ; derived from a comparison of the paintings, sculpture, and monuments still existing, with the accounts of ancient authors. Illustrated by Drawings of those subjects. 5 vols., 1847] a figura de dois cães (que foram publicados em muitos livros) bastante semelhantes a pointers actuais, atrelados a um caçador que transporta uma gazela às costas; são portanto cães usados para correr a caça

[como se pode ver aqui - A Popular Account of the Ancient Egyptians, 1854, pág. 219; W. C. L. Martin, History of the dog, the origin, physical and moral characteristics and principal varieties, 1845, que cita Wilkinson e publica esta figura na pág. 50 do seu livro. No cão em primeiro plano aparece com stop vísível embora não muito pronunciado, as orelhas de inserção alta pendem logo a seguir à linha de inserção craniana, são pequenas e triangulares, podendo dar a ideia de terem sido cortadas; a cauda é idêntica à de um pointer apresentando-se na linha horizontal e um pouco ligeiramente para cima e tem, até, a pequena curvatura a meio característica da sínfise ou junção de duas vértebras, característica patológica que se transmite, mas que embeleza a cauda de alguns pointers;

F. Callaud, Recherche sur les artes et metiers, les usages de la vie civile et domestiqne des anciens peuples de l'Egypte, de la Nobie et de l'Ethiopie ; suvies de details sur les mreurs et coutnmes des peuples modemes des memes contrées,2 vols,. 1837; Pierre Mégnin, Les Chiens et ses races, Tome Premier, Historie du chien depuis les temps plus reculés, l'origine des races et leur classification, 2ª ed., Aux Bureaux de l'Éleveur, Vincennes, 1897 - entre as pp. 40 a 55 trata dos cães da arqueologia Egípcia e, entre várias figuras que apresenta, mostra um caçador com uma gazela às costas, uma lebre pendurada na mão esquerda e um cão atrelado quase sem stop, de cauda pendente um pouco arqueada para cima na extremidade e de orelhas pequenas viradas para baixo logo a seguir à sua inserção lembrando, agora, mais um galgo, pág. 49, fig 12; W. Enos Phillips, The True Pointer and his Ancient Heritage, 1970, pág, XIX, referindo-se ao livro de L. Martin, critica Arkwright "He could hardly have carefully read Martin's work and have overlooked the picture of pointers wich Martin took from Wilkinson's Manners and Customs of Egypt."]

Como todos sabem o tema dos cruzamentos entre tipos e raças de cães pelos mais diversos motivos aparece e permanece na literatura sobre a matéria desde os tempos mais antigos até hoje de modo a que se podem vir a ser estabelecidas tradições histórico-culturais de tipo de "cruzas", a serem encontradas e estabelecidas.

Vou introduzir a questão com uma das abordagens mais conhecida a Barahona de Soto, Diálogos de la montería: manuscrito inédito de La Real Academia de la Historia, 1890, tendo o livro em forma de diálogo entre três personagens (muito provavelmente terminado em 1587 segundo José Lara Garrilho), na pág.472, "...SIL, Y se alguna vez no halllásemos sabuesos tan legítimos, de qué mezcla de perros se podría hacer que fuese buena?
MON. De sabueso legítimo y de perra de muestra, muy castizo cada qual en sú género, pequeños de cuerpo y descarnados y de largo viento. ...
"

O Cão de Parar, procura ainda um artigo saído na revista Ilustração Venatória do ano de 1880, que encravou sucessivas vezes nos Bibliotecários solícitos da BnE, que faz o resumo das práticas tradicionais, nesses séculos, de cruzamento de cães por volta do século XVI e XVII na Península Ibérica. Estas questões despertam o maior interesse porque num blog um num grupo de discussão do site www.molosserdogs, foi encontrado um email ou uma posta, que agora não se conseguiu encontrar, assinada Vanvan, Molosser enthusiast México, DF., iherpla@yahoo.com.mx de 21 de Setembro de 2004 (notamos algumas imprecisões no texto do email):

"Mixes of breeds for the hunting in Spain in 1880* - La Illustración Venatoria.

The hunters of Spain, trying to duplicate the breeding of the english, in a magazine named "La ilustración Venatoria" (The hunting illustration), recommended the following mixes for hunting in order to improve the local breeds:

"An spanish hound bitch mixed with a Jato -hunting dog with not specific breed-, produce a game finder dog, use to find the big game in the forests.
The sabueso (Spanish hound) mixed with the galgo (spanish grayhound) and its product crossed with the spanish pointer (Pachón Navarro), produce a bloodhound big game dog, and every fith generation, the blood of the first product mentioned above, most be crossed with this dog to ad nobility to this particular breed.

The sabueso crossed with the galgo and its product with the alano, provides a dog to hunt stalking the game.

An alano bitch crossed with the galgo produce running dogs to chase the deer.

A mastina bitch crossed with the sabueso, and its product again crossed with mastin, produce the running dog for the hog hunting.

A sabueso bitch crossed with a spanish water dog produce a long hair sabueso.

The spanish pointer crossed with the spanish water dog produce the Spaniel.

The product of the galgo with the alano is not a good scent hound, but they do not need to chase by the scent, since they are used as sight hounds, or following the sabuesos on the chase


No Cão de Parar de 7 de Julho foi editado o raríssimo livro (apenas 300 ex.) G. de Marolles, "Chiens de Faucon Chiens d'Oysel Chiens d'Arrêt, 1922, que na pág. 35 e em todo o seu livro, se mostra muito crítico e contra estas práticas de tradição histórico-culturais de tipo de "cruzas" na Espanha dos séc.XVI e XVII - uma das suas teses centrais é a da incompatibilidade entre o chien courant e o chien d'arrêt, da qual foi feita a revisão crítica curta, talvez abrupta para não surgir excitação na mão (ou, então, como disse e muito bem Chico Buarque na canção, mas não truculenta), por respeito ao adversário, na posta.

Também aqui, no Cão da Parar, a 2 de Junho de 2010, LIMIER – ENTRADAS NO LIVRO DE JACQUES BUGNION transcrevemos do blog Pointer Valdeorrass de 18 de mayo de 2010, por altura da morte do autor de Les chasses médiévales,2006, a posta JACQUES BUIGNION "DE LA LEMBAZ" a «Carta de Georges Bugnion a Pino de La Torre» , 12 abril de 1993, sobre selecção de reprodutores que gerem cães campeões nas provas de Trabalho (de Primavera) portanto sobre cruzamentos na mesmo raça, e para a qual remetemos.

Somos livres de pensar e de escorregar na ideia de que o Estudo de Pieter Boel poderá ter sido feito acompanhado de folhas onde sejam explicados os cruzamentos entre os cães para funções definidas, incluindo, se assim o entendermos, também o pointer a meio da linha deitado e em primeiro plano - é muito importante reparar, com toda a atenção, para onde é que os cães do Estudo de Pieter Boel estão a olhar e para onde é que o seu corpo está virado, bem como para que sítio apontam. Tal escrito pode ter-se extraviado. Ambos podem ter sido feitos em duplicado, claro, e se tivesse sido assim, seria de pôr a hipótese de que talvez tivesse acontecido algum acto de espionagem e não um simples furto - isso não pode, não pode repito, ter acontecido!...

Além do pointer há dois cães que queria abordar: O cão grande à sua direita preto e branco, que me parece parecido com a gravura do Spanish Poinder de Scott, segundo Reinagle, publicado por Taplin, The sportsman's cabinet (Volume v.2), entre as págs 124 e 125; John Scott, John Lawrence, The sportsman's repository, 1845, entre as págs. 114 e 115; Arkwright, The pointer and his predecessors, 1º ed. 1902, fig. entre as págs. 104 e 195


[Gravura colorida de Scott, segundo Reinagle, «Spanish Pointer» colorida à mão - ver a codorniz no canto inferior esquerdo da gravura]

O segundo, é o cão grande que está logo atrás deste de cor tom de acastanhado que, se tiverem muito boa vontade e considerarem a ligeira elevação na linha superior do pescoço que se nota bem, pode ser uma coleira muito larga, este cão poderá ser um corpulento limier [muitos anos depois - da ordem dos 150 anos - ainda apareciam representações iconográficas semelhantes como no Traité général îles chasses, 1927]

[Collaborateurs du Traité général îles chasses. Dédié à M. le Marquis de Lauriston, Paris, 1827, Éditeur Rousselon, Planche Limier]


Utilizavam-se cães de aspecto e tipos morfológicos muito diferentes consoante a espécie do animal que era caçado e, mesmo, para a mesma espécie que era caçada no processo de caça dito de veneria (Normanda) desde que fossem aptos para desempenhar as funções de limier (habitualmente um cão lento) e a dressage respectiva [O Cão de Parar publicou a 14 de Junho de 2010, uma posta "O LIMIER", em que os dois cães espantosamente tinham morfologia de Pointer, "dished face"ou "naso rivolto", mas a cauda era arqueada, côncava para cima, e os orelhas compridas embora a implantação não fosse baixa - a forma do pointer do Etude de Boel, permanecia no canil de Versailles]


[Jean-Baptiste OUDRY, "Le Roi tenant le limier", 1728.(Louis XV)]

O cãozinho do canto inferior direito é uma beleza - não me vou adiantar, mas não deixo de pensar que por reflexo condicionado automático alguns leitores imaginem que seja o antepassado do Perdigueiro Português, pese embora o ainda recente, mas completamente assumido pelos comandados, comando do dr. António Cabral de que já devesse ser amarelo com algum branco, com estas cores da pelagem a caírem bem combinadas e com o amarelo a predominar... não é que eu geral seja contra os reflexos condicionados, mas aqui dou um toque de alerta...

Este cãozinho parece estar a olhar muito tranquilo para o pintor, mas está muito seguro, que pode parecer que está quase "para lhe cair com os olhos em cima”, “para lhe pôr os olhos em cima" - está (como dizem os Ingleses) "making eyes", para exercer o "pouvoir de l'oeil" - a Boel que está a desenhar ou a pintar o seu Étude, poder que, actualmente, em trabalho reservado ao Border Collie... com o qual este cãozinho não terá que ter nada a ver, claro - estamos a falar doutro poder totalmente diferente na formação do pointer, o que está em causa é o poder de paragem.

Os dois cães mais pequenos no canto do quadro, brancos com orelhas, cabeças e pequenas manchas no corpo, por vezes quase pontuais, acastanhadas serão bracos de corpulência média ou média pequena, um(a) virado(a) e a olhar sentada e atenta para os cães de correr, outro(a) para os cães de parar, este(a) deitado(a) a galá-los disfarçadamente e a olhar o pointer pelo canto do olho e para o cão parecido com o Spanih pointer de Scott, segundo Reinagle... é o que posso pensar tendo em conta o Mixes of breeds for the hunting in Spain ..., a citação acima de Barahona de Soto, de Sélincourt sobre as cães de arcabuz e dos autores Franceses do século XVIII de pequenos manuais de ensino do chien d'arrêt e Biffardière, Antoine Gaffet (de la Briffardière) et Chappeville, Nouveau traitée de Vénerie, pág. 138, 1750 e Desgraviers, Essai de vénerie ou L'art du valet de limier, [1784], 1810, pág 136, Magné de Marolles, La chasse au fusil, 1788, vol 2, pág 180, ainda, "bracco" o cão preferido de Olina para a caça com rede (chasse à la tirasse), "caccia col bracco a rete", "bracco da rete", Olina, Uccelliera, overo discorso della natura e propieta di diversi uccelli e in..., 1622. Mas não só este autores, também Buffon, do lado da ciência, Georges Louis Leclerc de Buffon, Histoire naturelle, générale et particulière, vol 2, pág. 548, aborda do mesmo modo que os autores acima citados: "Trois espèces sont propres à cette chasse, le braque, l'épagneul, et celui que les chasseurs appellent griffon : c'est un chien métis à poil long et un peu frisé, qui tient du barbet et de l'épagneul. Le braque est plus brillant et plus léger dans sa quête ; niais la plupart de ces chiens craignent l'eau et les ronces; au lieu que l'épagneul et le griffon..."

NO CAMINHO DA GENÉTICA MOLECULAR - um ícone da Genética Molecular Canina


Na verdade, estamos hoje virados para esta área no que respeita a evolução, transformação, datações, cruzamentos, migrações, etc., e, nesse sentido, para a "desocultação" da mensagem cifrada expressa no Étude de Pieter Boel, "Dix-sept études de différents chiens", do 3º quartel do séc. XVII, que pelo seu conteúdo não só podia ser adoptada como símbolo para a Genética Molecular do cão, como também promete trazer alterações muito significativas nas concepções actuais do origem do Pointer nos séc. XVII e XVIII - num espaço de tempo muito curto, mas enfim … nas dificuldades, na crise epistemológica, digamos, é claro ... todos nos viramos para a Genética Molecular.

Por dever de gentileza, que se pode tornar uma maçada por incentivo de bem querer informar, deixo aqui referencias bibliográficas, três da quais (a 1º, 3ª e 4ª) se encontram nas duas últimas monografias do Perdigueiro Português:

W. Arkwright, The pointer and his predecessors, 1º ed. 1902; um cap. do livro de James Watson, "The dog book", 1906; W. Enos Phillips, "The True Pointer and his Ancient Heritage", 1970; Felice Steffenino, "Il Pointer Moderno", 1987 - o e este e último livro revêem com bastante minúcia os argumentos em favor do cão português na origem do Pointer.

Dr. Louis Merle, "De l'origine du Pointer et de la fixation de son type. Essai historique et critique" e Robert Martineau, "Contribuition à l'éclaircissement d'une vaisemblance", in: FIELD-TRIALS, Bulletin de l' Amicale des Amateurs de Field-Trials, Nº 6 - Juin, 1966 [e que saíram em separata] - usarão, eventualmente, standard (que é um normativo) e a noção de tipo, levando, sem o quererem, por vezes a alguma confusão. Pode fazer-se uma ideia da noção de standard e de tipo aqui, SOCIETE CENTRALE CANINE POUR L'AMÉLIORATION DES RACES DE CHIENS EN ..., CHAPITRE VII NOTIONS DE STANDARD ET DE TYPE RAYMOND TRIQUET... e rever rapidamente a noção de tipo em Bugnion, "Les chasses médiévales", 2006, "La typologie", p. 137: "Selon le P. Dechambre, le type d'un chien se conçoit comme un modèle théorique indépendant de toute idée de filiation. A l'opposé le concept d'espèce implique la transmission des caractères distinctifs par les mecanismes de l'hérédité et de selection". Portanto, estes dois conceitos confundem-se e ultrapassam as próprias barreiras quando surgem problemas com a necessidade de retempera duma raça, de ascendência, descendência e origem da raça, surgimento de doenças que provocam alterações morfológicas, etc.

Refira-se que P. Dechambre - provém duma eminente linha de professores de Zootechnie, que começou em Baron e que durou até aos anos 30 do séc. passado, prolongando-se até Guiseppe Solaro, "Il Pointer (Le Pointer) Disegno di descrizione dei caratters etnici" (text in French and Italian), 1953 - desenvolveu muito o estudo da morfologia animal e criou a noção de type morfológico, o que tem sido até hoje frutífero, muitos anos antes de Genética Mendeliana se ter implantado em França, muito lentamente, como se pode ver em Bernard Marty, "L'hérédité pour les zootechniciens français de la second moité du XIXe siècle", Bull. Hist. Épistém. Sci. Vie, 2006, v. 13, (1), 57-87.

O Cão de Parar, navegando na sempre esquecida interdisciplinaridade, recorrentemente consulta Raymond Coppinger & Lorna Coppinger, "Dogs: A New Understanding of Canine Origin, Behavior and Evolution", 2001 (2002), etc, e não pode deixar de lembrar um dos melhores exemplos - ARCHIVO IBEROAMERICANO DE CETRERÍA, mandado traduzir por Afonso X para o seu Livro de la Montería, precisamente no que diz respeito aos cães, como podem saber, conhecido simplesmente por Maomin, agora Muhammad ibn Abd Allah ibn 'Umar al-Bayzar, Libro de los animales que cazan.

Pelo propósito dos trabalhos seleccionámos o mesmo trabalho em que está envolvida Ana Elizabete Pires em duas línguas... a coisa é grave...

Sabendo da importância dos trabalho dos especialistas desta área com os cães portugueses é fácil fazer a lista a partir das bibliografias da autora escolhida, mas bastará pesquisar no Goglemolecular genetics”, “dog” ou “dogs” (com o duplo sentido desta palavra que por vezes provoca zebra) e os especialistas portugueses aparecem lá - não se deve pensar que foi a Foto Gallery do seu site que tornou a escolha inevitável - digo, a interpelação inevitável.

Assim:

Molecular structure, Sloughi, Aidi, Portuguese dogs The same breeds of dogs were characterized using 16 microsatellites and 225 Amplified ... Perdigueiro Português (Portuguese Pointer) © Lilian Zuurendonk; Structure moleculaire Sloughi, Aidi, chiens portugais C'est la première fois que des microsatellites et des marqueurs AFLP sont utilisés.... Perdigueiro Português (Pointer portuguais) © Lilian Zuurendonk; Ana Elisabete Pires Home - não esquecer a Photo Gallery (e o Cão de Parar a dar-lhe! mas não deixo oportunidade ao teclado de apagar!). Poder-se-ia dizer mais... e também sobre o "Perro" de Goya único quadro solitário numa das parede enquanto nas outras paredes da casa do surdo há vários [Versión extendida: toda la reconstrucción en 3D de la Quinta del Sordo] - o preferido, no que respeita à representação artística dum cão de parar como caçador, tal como Goya que preferia caçar como disse nas carta ao seu amigo e, para que se saiba, um atirador de alto gabarito, com grande gosto por vinho e degustações, fosse o que fosse de caçadores, bem como conhecia bem o teorema de Bernoulli e o Efeito de Venturi e, por isso, foi não só capaz de muito bem compreender o tiro no interior dos canos da caçadeira, como ser o pintor genial que toda a vida manteve o tique de não apagar um traço ou uma pincelada, sendo o primeiro a pintar o vento, por sinal, num quadro [La nevada, 1786] com tema de caça humorístico até matar e compreensível só para cúmplices versados e combinados na jogada - o que se devem ter rido e comentado no almoço ou no jantar antes de ser entregue a encomenda.

[ver AQUI - Museu Nacional do Prado]

[em continuação]